quarta-feira, 9 de abril de 2014

Se as tuas mãos divinas folhearem - Florbela Espanca


Se as tuas mãos divinas folhearem

Se as tuas mãos divinas folhearem
As páginas de luto uma por uma
Deste meu livro humilde; se poisarem
Esses teus claros olhos como espuma

Nos meus versos d′amor, se docemente
Tua boca os beijar, lendo-os, um dia;
Se o teu sorrir pairar suavemente
Nessas palavras minhas d′agonia,

Repara e vê! Sob essas mãos benditas,
Sob esses olhos teus, sob essa boca,
Hão de pairar carícias infinitas!

Eu atirei minh′alma como um rito
Às trevas desse livro, assim, ó louca!
A noite atira sóis ao infinito!..

© Florbela Espanca
In O Livro D′Ele, 1915-1917

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