quarta-feira, 9 de abril de 2014

Sono limpo - Drummond


Sono limpo

Não mais o sonho, mas o sono limpo
de todo o excremento romântico.
A isso aspiro, deus expulso
de um Olimpo onde sonhar eram versões
de existir.
Não à morte: ao sono
que petrifica a morte e vai além
e me completa em minha finitude,
ser isento de ser, predestinado
ao prêmio excelso de exalar-se.
Não mais, não mais o gozo
de instantes de delícia, pasmo, espasmo.
Quero a última ração do vácuo,
a última danação, parágrafo penúltimo
do estado - menos que isso - de não ser.

Carlos Drummond de Andrade

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