sexta-feira, 4 de julho de 2014

Quadras simples - Gilka Machado




Quadras simples

Ó Lua, velha fiandeira
que andas molemente a fiar,
às vezes a noite inteira,
o linho branco do luar!

Porque eu tanto assim te queira,
por tanto, Lua te amar,
dá-me na hora derradeira,
uma mortalha de luar.

Certo, nas noites de Lua,
tua alma errante de poeta,
em pleno espaço flutua
numa escalada secreta.

E, ao pálio que a Lua espalma,
buscando a tua encontrar,
dentro da noite a minha alma
se eleva, tateando no ar.

Há-de, com toda a certeza,
casar-se a minha alma à tua,
nessa capelinha acesa,
na alva capela da Lua.

E, como um monge velhinho,
rezando trêmulo, o luar,
há-de, com todo o carinho,
o nosso enlace abençoar.

Assim, pelas noites calmas,
num leve e místico abraço,
poderão as nossas almas
unir-se, ao menos, no espaço.

In "Cristais Partidos

Gilka Machado



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