quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Antes o voo da ave - Alberto Caeiro(F. Pessoa)



Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!


© ALBERTO CAEIRO
7-5-1914
In O Guardador de Rebanhos. Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa, 1946

Nenhum comentário:

Postar um comentário