quarta-feira, 6 de agosto de 2014
COMO QUEM NUM DIA DE VERÃO ABRE A PORTA DE CASA - Alberto Caeiro(F. Pessoa)
COMO QUEM NUM DIA DE VERÃO ABRE A PORTA DE CASA
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
© ALBERTO CAEIRO
In O Guardador de Rebanhos. Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa, 1946
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